Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como «um rastilho de pólvora». Uma cegueira coletiva. Romance contundente. Saramago a ver mais longe. Personagens sem nome. Um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada. A arte da escrita ao serviço da preocupação cívica.
“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui.”
Pelo menos todos aqueles que já tiveram Português de 12º ano conhecem o dilema de ler ou não ler o "Memorial do Convento". Eu bem tentei, mas não consegui ganhar interesse pelo livro, principalmente depois de me terem contado a história toda. Mesmo assim, fiquei curiosa com a escrita de Saramago - sarcástico e com uma prosa diferente, mas sem deixar de ser agradável, deixou-me com vontade de ler outra obra dele. Ganhei este livro num concurso, por isso nem precisei de gastar dinheiro ou paciência (para requisitar) para ler o livro. Não sabia se ia gostar, mas a sinopse deixou-me tão interessada quanto a escrita do autor. Por isso lá me aventurei assim que as aulas acabaram.
E não é que acabei por ler tanto deste livro em 4 ou 5 dias deste como li do Memorial? Pois, é verdade. Não me orgulho de não ler os livros de "leitura obrigatória", contudo quem prepara o programa da disciplina também não ajuda (e o facto de ficção histórica não me dizer muito também não ajudou).
Não é um livro com muita acção - talvez seja mais "lento" do que a do Memorial -, havendo o foco nas acções das pessoas e não tanto numa continuidade de momentos problemáticos como vemos em muitos livros. O problema central é o "mal-branco" e a partir daí vemos, como se fossem ratos num laboratório, o comportamento da sociedade, das pessoas e das personagens sem nome que acompanhamos desde o início. Ao longo de todo o livro existem várias peculiaridades - expressões idiomáticas e provérbios modificados, personagens sem nome e sem descrição física para além da idade, existir apenas uma pessoa que vê, crítica e mais crítica à sociedade, etc - que fazem desta obra algo único. Já para não falar do retratar cru, duro, chocante e muito credível de uma sociedade cega, de um governo desorganizado, de uma "comunidade" de cegos que fazem de tudo para sobreviver.
Não é um livro com muita acção - talvez seja mais "lento" do que a do Memorial -, havendo o foco nas acções das pessoas e não tanto numa continuidade de momentos problemáticos como vemos em muitos livros. O problema central é o "mal-branco" e a partir daí vemos, como se fossem ratos num laboratório, o comportamento da sociedade, das pessoas e das personagens sem nome que acompanhamos desde o início. Ao longo de todo o livro existem várias peculiaridades - expressões idiomáticas e provérbios modificados, personagens sem nome e sem descrição física para além da idade, existir apenas uma pessoa que vê, crítica e mais crítica à sociedade, etc - que fazem desta obra algo único. Já para não falar do retratar cru, duro, chocante e muito credível de uma sociedade cega, de um governo desorganizado, de uma "comunidade" de cegos que fazem de tudo para sobreviver.
Não tinha a certeza se queria ler o Ano da Morte de Ricardo Reis, mas agora sei que tenho de ler esse livro não só porque Saramago é um excelente escritor - sem dúvida merecedor do prémio nobel -, mas também porque gosto bastante de Ricardo Reis e ainda mais de Fernando Pessoa.
My Rating: 9/10
"Pelo menos todos aqueles que já tiveram Português de 12º ano conhecem o dilema de ler ou não ler o "Memorial do Convento"." Amen!
ResponderEliminarEstá na tbr list... top 30 agr xD
Pois, se tivessem escolhido este livro já não tínhamos esse problema :b
EliminarFazes bem!